sexta-feira, 20 de agosto de 2010

HiperMarco

Jornal MARCO - Edição 272 - Março 2010

MULHERES DIRIGENTES ESPORTIVAS

Pesquisa do IBGE revela que o sexo feminino vem se destacando no comando de atividades do ramo de esportes. Desafios iniciais são superados pela confiança dos familiares e dos clubes

Gabriel Duarte,
5° Período

Apesar das mulheres terem uma escolaridade média maior do que a dos homens, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda na sociedade é difícil ver pessoas do sexo feminino ocupando cargos que são considerados de alto escalão. Ainda segundo o IBGE, cerca de 60% das pessoas com 12 anos ou mais de escolaridade são do sexo feminino. Entretanto, as mulheres dirigentes representam 44%, contra 56% dos homens. No esporte, este cenário não é diferente.

O Brasil, que é considerado o país do futebol, tem poucos exemplos de mulheres que ocuparam ou ocupam cargos de gerência nos clubes. O caso mais recente é de Patrícia Amorim, ex-nadadora, que se tornou a primeira presidente mulher do Flamengo, atual campeão brasileiro de futebol. Outro caso é de Marlene Matheus, que presidiu o Corinthians entre os anos de 1991 e 1993. Na Itália, o Bologna é presidido por Francesca Menarini e o Roma por Rosella Sensi.

Amir Somoggi, especialista em gestão esportiva e pós-graduado em marketing esportivo, explica que a boa gerência dos clubes de futebol independe do sexo, o que vale é a qualificação profissional e a atuação no mercado. Além disso, o especialista ressalta que essas mulheres têm um papel importante na construção da imagem feminina no esporte. "Somente o sucesso na gestão poderá mostrar que as mulheres também são qualificadas. Todas que chegarem lá terão que lutar muito para atingirem os objetivos e não fracassarem, já que pode ser usado o argumento que não conhecem de futebol", explica.

Em outras modalidades esportivas, a situação não é muito diferente. Yara Maria Ribas, ex- atleta da seleção brasileira de vôlei nas décadas de 60 e 70 e técnica do mesmo esporte após a aposentadoria das quadras, tornou-se diretora-adjunta do vôlei feminino do Minas Tênis Clube em 2008. "Quando ele (presidente do clube, Sérgio Zech Coelho) me chamou, eu relutei um pouco. Mas como eu conheço o Minas há mais de 40 anos, aceitei o convite", conta.

Logo no começo, Yara encontrou o seu primeiro desafio. O clube mineiro passava por dificuldades em contratar atletas, já que faltava ajuda financeira e por isso a participação na Superliga Feminina ficou prejudicada. "No início, não tínhamos patrocínio. Com uma pequena ajuda do clube, ficamos em oitavo lugar", ressalta. Este ano, porém, o Minas Tênis Clube conseguiu dois patrocinadores e pôde contratar duas jogadoras estrangeiras, Vargas, da República Dominicana e Nancy Metcalf, dos Estados Unidos.

Yara, que participou da formação de atletas consideradas hoje de grande sucesso, como as meios de rede Fabiana e Walewska, admite que, mesmo estando no esporte há mais de 40 anos e tendo participado de uma edição dos Jogos Pan-americanos, encontrou dificuldades na administração do vôlei do clube. "É lógico que é diferente. Foi um desafio muito grande. Tem que assumir coisas que você não pensava fazer", diz.

Yara Ribas, contudo, relata que não encontrou problemas em sua gerência pelo fato de ser mulher, já que teve apoio de familiares e dos próprios integrantes do Minas Tênis. "Já sou tão conhecida no Minas, que para mim não teve problema algum em relação a isso. Você fica com responsabilidade grande, mas você tem um respaldo muito grande também", afirma.
Para Franciane da Cruz Costa, coordenadora do basquete feminino da Federação Mineira de Basquete, assumir a gerência da federação foi um grande desafio. Ela conta que teve que enfrentar barreiras no começo, mas que teve apoio por parte dos integrantes dos clubes e da própria federação. "Tive todo apoio na Federação e nos clubes. Eles me deram muita força", afirma.

Porém, Franciane conta que não escapou da desconfiança de pessoas que estão na modalidade. "Os técnicos são complicados. Quando me viam já me tratavam de forma diferente", relata.
Para Amir Somoggi, casos como de Yara e Franciane estão sendo percebidos cada vez mais nas modalidades esportivas, inclusive no futebol. "Sem dúvida, por muito tempo o futebol foi considerado um ambiente eminentemente masculino, o que dificultou a chegada das mulheres ao topo da administração dos clubes. Aos poucos isso vai mudando, como em toda a sociedade", analisa.

Ainda segundo ele, o mercado esportivo está hoje mais maduro e diminuiu a desconfiança em relação ao potencial das mulheres. "É muito mais importante ser um gestor qualificado”, diz.


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